domingo, 23 de maio de 2010

O andar do bêbado...

Essa semana eu fiz um curso muito interessante no SEBRAE sobre desenvolvimento de equipes. No curso trabalhamos uma série de competências necessárias para o trabalho em qualquer grupo de pessoas como comunicação, inteligência emocional e ética. Todas essas competências foram trabalhadas com dinâmicas lúdicas e discussões posteriores sobre o nosso comportamento.

O curso foi ótimo, muito bom mesmo, mas não é sobre isso que eu queria escrever. Numa das dinâmicas do curso, fomos confrontados com um jogo de azar. E alguém me perguntou se era possível prevermos um resultado em um jogo como esses que, aparentemente é aleatório. E eu respondi que sim... nesses jogos o "espaço de decisões" pode ser aleatório, mas as pessoas que as tomam não são. E até nessa aleatoriedade existe um padrão: o egoísmo. Sempre vamos tomar decisões que nos beneficiem em detrimento ao grupo. E essa é a nossa natureza. Sim, é uma visão trágica da vida.

Não estou dizendo que todos tomam essa decisão, mas esse é o comportamento médio. E é nesse ponto que eu gostaria de chegar no texto: na média. Nós, seres humanos, temos uma capacidade incrível de querer encontrar padrões em tudo que existe. Queremos saber porque um vinho horrível foi classificado como número um numa revista de enólogos famosos, porque aquele ator de Hollywood tem sucesso e aquele outro ali não tem, porque o livro do Stephen King vende tanto, se eu nem gosto tanto assim dele. E o principal: porque aqueles filmes do Night Shyamalan continuam fazendo sucesso sendo que só "Sexto Sentido" é realmente bom?

Porque nosso comportamento é aleatório, mas, na média, nós tendemos a seguir a opinião dos outros. Coloque todos os enólogos que classificaram aquele vinho com gosto de borracha em salas separadas e peça pra eles classificarem o vinho (sem saber sua procedência). Sabe qual vai ser o resultado? Uma parte deles vai dizer que o vinho é ótimo, com "notas" de tâmaras secas da Arábia e chocolate amargo (estou inventando, não entendo nada de vinhos), uma parte deles vai dizer que o vinho tem gosto de borracha (sim, eu fico aqui!!!) e uma parte deles vai dizer que o vinho está na metade do caminho nem bom, nem ruim (E a distribuição disso vai ser gaussiana!). Agora repita o experimento dizendo que o vinho foi o número 1 naquela revista super respeitada. Alguma dúvida sobre o resultado? Nós vamos confiar na opinião daquela revista super respeitada. Afinal, ela é super respeitada e nós, bem, nós não entendemos nada de vinho.

Esse comportamento se repete com tudo na nossa vida, e nós não conseguimos perceber. Mas tudo bem, evolutivamente foi bom seguir com a opinião do grupo, certo? Evolutivamente, foi bom ser egoísta. Evolutivamente, foi bom procurarmos padrão em tudo que vemos. Mas não podemos negar que alguns acontecimentos são aleatórios. Quer dizer, todos eles são aleatórios. São conjuntos de pequenas decisões aleatórias que nos trouxeram até aqui. Sabe aquele homem perfeito que você conheceu no supermercado e virou o homem da sua vida? Não, não havia nenhum plano divino interferindo no fato de que ele ficou com vontade de beber cerveja no domingo a noite e você ficou sem pão para o café da manhã de segunda-feira. O que não foi aleatório foi a decisão de levantarem do sofá e irem ao supermercado. Não é porque quase tudo é aleatório que não temos as rédeas de nossa vida, certo?

O título do texto é "O andar do bêbado" por dois motivos:
1 - faz alusão ao livro "O andar do bêbado" :-P Boa parte das idéias foram tiradas de lá e eu recomendo àqueles curiosos sobre probabilidade e estatística ;-).
2 - Por causa do movimento browniano. Uma partícula, movimentando-se devido a causas aleatórias, tende a voltar para o mesmo lugar (se tiver tempo para isso, é claro). Assim como um bêbado sempre volta pra casa, apesar da incerteza de seus passos.


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