sábado, 16 de outubro de 2010

Desabafo

Não me considero uma pessoa politizada. Não costumo ler muitos jornais e revistas políticas. Praticamente tudo que sei sobre política eu acompanho pela Internet ou em algum dos raros momentos em que consigo assistir o jornal da televisão. Não estou orgulhosa disso, mas achei necessário colocar aqui para deixar explícito que o texto é um desabafo de como eu estou me sentindo durante essa campanha eleitoral. Fiquem a vontade para discutir, ou contestar o que eu escrever.

Hoje gostaria de compartilhar um desabafo, uma indignação e uma preocupação. O desabafo é: eu não sei em quem votar. Não quero votar nulo ou branco, mas não vejo outra alternativa. E eu estou realmente preocupada com isso. Sei que dificilmente um candidato corresponderá às minhas expectativas completamente, mas hoje eu sinto que nenhum dos dois corresponde nem parcialmente a elas. Por um simples motivo: questão de caráter - o que é absurdo, concordam? Eu estou deixando de votar em um representante político por que eu não concordo com os valores dele, e não por causa de suas propostas políticas.

Quando uma campanha política é construída a partir de ataques - e não de propostas - de religião - e não de economia - de opiniões - e não de fatos, ela perde o sentido. Eu não estou interessada na opinião dos candidatos sobre o aborto. Eu não quero saber se a Dilma é ou deixa de ser lésbica, se o Serra é a favor ou contra o casamento gay, se eles se aliaram ou não aos católicos e protestantes. Eu não tenho religião, mas continuo sendo uma cidadã brasileira. E, como tal, eu sinto que nenhum dos dois vai me representar; assim como ninguém vai representar os homossexuais, os ateus, as mulheres que querem abortar, os budistas, os espíritas e os praticantes do candomblé. A humanidade lutou tanto para que a política fosse independente de tudo isso, mas parece que o esforço foi em vão.

Como cidadã brasileira, eu tenho as minhas preocupações individuais - como trabalho, minha saúde, impostos que eu vou ter que pagar, ou deixar de pagar - e as minhas preocupações coletivas. Não, eu não olho só para o meu umbigo. Eu quero que o Brasil cresça, que a população tenha uma educação de qualidade, acesso à saúde, segurança e todas essas coisas que os candidatos adoram repetir na TV - entre o aborto e a caça aos votos dos religiosos, se sobrar tempo, é claro.

Como cidadã brasileira, eu quero ter acesso à verdade. Eu quero saber quanto o Brasil cresceu nos últimos anos, eu quero saber se o desemprego diminuiu, como anda a qualidade da saúde. Eu não quero saber a taxa de analfabetismo. Em um país onde Tiririca é o deputado mais votado, dizer se uma pessoa é analfabeta ou não é besteira. Eu quero saber o que é considerado analfabetismo, e quantas das pessoas "alfabetizadas" conseguem interpretar um texto, porque essa sim é a estatística relevante nessa comparação. Eu não quero ouvir se o programa "Minha casa, minha vida" construiu 1 milhão de casas, e logo depois ouvir que o mesmo programa construiu só 150 mil casas. Eu não quero saber quantos brasileiros têm acesso à saúde pública, mas como é a qualidade do atendimento: quantos conseguem ser curados, quantos morrem por falta de vagas ou equipamentos. Eu quero saber a verdade, mas onde ela está? Infelizmente, eu parei de acreditar nos números. Como diz meu irmão, papel aceita qualquer coisa e é impossível checar tudo. Eu estou tentando, acredite! Estou, nesse momento, com a página no IBGE aberta e procurando os números, mesmo que eu não confie, porque é melhor que nada.

Minha indignação é essa: Não sei onde está a verdade. Eu escuto que o Brasil melhorou, que mais gente tem acesso à educação, mas eu continuo vendo uma criança de 14 anos, que está na sétima série, não saber escrever o próprio nome: esse é o milagre da aprovação automática. Eu vejo a saúde sucateada, mas os números da saúde crescendo. Eu vejo comparações enviesadas, os mesmos números sendo utilizados contra e a favor dos candidatos. Afinal, tudo depende da forma como você olha, certo?

Eu não quero saber se o FHC gostou do que o Lula fez, ou vice-versa. Eu não quero saber só o que a Dilma fez, ou só o que o Serra deixou de fazer. Eu quero saber o que eles pretendem fazer para conter o crescimento da dívida pública. De onde eles arrumarão dinheiro para bancar a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016 - um belo presente de grego, na minha opinião - e como eles diminuirão o desvio de verbas. Também quero saber como eles vão manter o ritmo de crescimento de forma sustentável, pois eu não acho que essa seja apenas uma preocupação dos "verdes". Eu quero propostas concretas para a solução de problemas concretos.

E aqui eu concluo, com a minha preocupação. Enquanto estivermos ouvindo somente opiniões, estaremos escolhendo o futuro do país pelos motivos errados. Estaremos escolhendo a Dilma porque ela é contra o aborto ( ou porque achamos que o Lula é o pai do bolsa família), e o Serra porque ele vai dar o décimo terceiro para o bolsa família (ou porque o FHC fez o plano real).

Um comentário:

rafa zart disse...

parou de escrever aqui =pp